terça-feira, 30 de agosto de 2011

Globalização e diáspora africana


De Alexandre, o Grande, aos romanos dos Césares, do Cristianismo de Pedro à Mongólia de Genghis Khan, do Islã de Maomé às Cruzadas Ibéricas, a característica marcante encontrada a expansão de
fronteiras, compreendida como globalização das trocas econômicas e do modo de vida das elites dos impérios constituídos. Portanto, podemos afirmar que a globalização não é um fenômeno singular da modernidade avançada ou tardia conforme insistem alguns estudiosos. O que tem se caracterizado como um traço realmente singular nesta recente etapa do capitalismo capitalista é a multiplicidade de globalizações, apesar de toda a hegemonia da civilização ocidental atingida pela explosão da tecnologia comunicacional e pelo controle bio-político das sociedades, sendo os Estados Unidos, a ponta-delança deste processo. Assim, assistimos, para além da globalização hegemônica neoliberal, a várias outras formas desse fenômeno
marcadamente intercultural, com panorâmicas segmentadas das experiências materiais e subjetivas dos humanos que se mantêm subalternidade como os africanos e seus descendentes fora África;
índígenas em todas as partes do mundo; os ciganos, que, entre outros tantos movimentos, ao agirem nesta direção cooperam para que a
história humana se tome, por conseguinte, mais plural na própria
construção global.
O ensinamento que se pode extrair desta multiplicidade de globalizações tem demonstrado que inúmeras experiências civilizatórias podem ser
narradas e incorporadas em uma complexa panorâmica que descreveria
e analisaria a trajetória, muitas vezes dispersa por milhares de anos e em muitos continentes, das transmigrações, das trocas epistêmicas, do jugo colonial, da escravidão, dos apagamentos da memória etc.
E foi com esta expectativa de reconstituição em uma visão global das múltiplas narrativas dos africanos e de seus descendentes dispersos pelo mundo, que intelectuais e ativistas se dispuseram a pesquisar, observar,
descrever e construir uma história e uma reflexão da sobreposição das experiências civilizatórias africanas e da dispersão de todos os seus descendentes de africanos pelo planeta. Os pesquisadores foram alimentados pela idéia de que seria possível uma história que revelasse as experiências de movimentação dos negros pelo mundo em busca de sucesso e melhores condições, ao mesmo tempo que fosse capaz de promover o encontro de uma consciência globalizada daquela experiência em busca da unidade transcontinental. Esta busca resultou nos movimentos da Negritude e do Pan-Africanismo, surgidos no bojo das lutas de libertação dos povos africanos durante o processo de descolonização da África e Ásia.
Recentemente, a discussão em tomo da valorização e inclusão social dos descendentes de africanos ganhou um forte impulso em todo o mundo e em especial na América Latina, onde tal debate sempre estivera amortecido.
Esta valorização ocorre em um processo de sofisticação analítica que acontece nos Estados Unidos, com a introdução do conceito Diáspora Africana, um conceito agregador, que veio promover a aproximação da
experiência dos africanos a dos seus descendentes fora da África. Com a utilização do conceito diáspora, tomado de empréstimo da experiência judia, o objetivo principal é elucidar a dispersão ocorrida durante séculos desde Abraão.
Júlio César de Tavares, Professor do departamento de Estudos Culturais e Mídia Instituto e
Arte e Comunicação Social da UFF